A Guerra, ativa e passiva, do Terrorismo contra o Turismo
January 2016
Os múltiplos e recentes ataques terroristas, que tiveram lugar em locais tão distantes quanto Londres e a Califórnia, devem ser tidos como um aviso para as atividades turísticas, pois está chegando um tempo novo e cheio de perigos. Antes, a maioria dos locais turísticos considerava que ou não seriam alvos de ataques terroristas ou que tais ataques seriam sempre dirigidos contra alvos muito conhecidos e específicos. Por outras palavras, era assumido que praticamente poderíamos prever quais as áreas mais propensas a ataques terroristas. Segundo o paradigma dominante, esses ataques teriam lugar em locais em destaque, nos seguintes critérios:
- centros onde os danos econômicos fossem maiores.
- centros onde o número de vítimas pudesse ser mais elevado.
- locais de grande significado simbólico.
- locais mais susceptíveis de cobertura pelos Media.
Acadêmicos e especialistas em Segurança fundaram este paradigma em ataques como os de Nova Iorque, Londres ou Madrid. Assim, as empresas do Turismo e da Segurança não consideram locais como os situados no Próximo Oriente como relevantes. Porém, os múltiplos incidentes ocorridos na Europa e nos Estados Unidos criaram anomalias relevantes, ao ponto de levar os pesquisadores e os profissionais do Turismo a ponderar a necessidade de revisão e atualização do referido paradigma. Este mês, a Tourism Tidbits apresenta algumas das novas realidades que os profissionais do Turismo precisam de ter em consideração. Entre estas, temos que:
- Muitas vezes, o Turismo é um íman para os terroristas. Os Valores do Turismo estão nos antípodas dos terroristas. Além disso, a atividade turística é tão ampla e diversificada que faculta múltiplos alvos para quem procura criar o caos econômico.
- O medo, combinado com imprevisibilidade própria do terrorismo, pode ter efeitos no Turismo mundial e na Economia global. Os terroristas nem precisam concretizar ataques bem sucedidos, apenas têm de criar um clima de medo. Embora os homens de negócios continuem a viajar, que o faz por lazer pode se retrair. As pessoas podem não só ficar com receio de viajar até grandes centros turísticos como Londres ou Paris, como também para outros menos conhecidos ou não tão populares.
- Apesar da Comunicação Social e dos boatos, estatisticamente, o terrorismo afeta um número relativamente pequeno de pessoas, e ainda menor de turistas. A morte de alguém é sempre uma tragédia, mas é mais comum um visitante morrer de um acidente de viação ou de uma falha de segurança que em conseqüência de uma ação terrorista. Por outro lado, não é comum que os Media se ocupem muito de acidentes de viação. Os centros turísticos precisam de montar bons planos de imprensa, para estarem prontos sempre que ocorra algum incidente, evitando planos de última hora.
- Os ataques contra locais não especificamente turísticos ainda têm conseqüências sobre o Turismo. O terrorismo assenta no medo e, quanto maior for o receio de estar longe de casa, mais precária será a situação das empresas turísticas. Os terroristas não precisam de visar diretamente as atividades turísticas para causar danos, um ataque passivo, ou mesmo um ataque falhado, mas divulgado, ainda será um sucesso, na sua perspectiva.
- O terrorismo já não está confinado aos principais centros turísticos. O incidente terrorista ocorrido na Califórnia demonstra como o terrorismo pode ocorrer também no que eram consideradas localizações improváveis. Isto significa que zonas consideradas “seguras” também precisam de ter planos antiterroristas.
- Devido à grande divulgação que sempre terá, toda ação terrorista provoca um aumento dos níveis de ansiedade globais, independentemente de onde ocorra. Por o terrorismo ser agora um fenômeno mundial, qualquer ataque leva a que não só potenciais os visitantes do local fiquem com medo, mas também que muitas pessoas deixem de viajar, ou passem a viajar menos, afetando o conjunto das atividades turísticas.
- Pensem em cenários improváveis. Os terroristas não precisam de usar meios letais, podem criar uma crise turística por meio de “ciberataques”, das redes sociais ou apenas lançando boatos que propagam o medo entre quem viaja. No mundo atual, interligado através dos Media, as notícias se difundem muito rapidamente e podem causar receios e cancelamentos, não só para um local determinado, mas também globalmente.
Seguem algumas das, poucas, coisas que os profissionais do Turismo podem fazer para estarem preparados.
- Os profissionais do Turismo precisam de obter as suas informações de várias fontes. O terrorismo espalha a confusão, sobretudo nas localizações menores. É essencial que cada profissional do Turismo tenha uma ampla gama de informações e que não permita que a sua sensibilidade política pessoal interfira com a análise objetiva dos fa(c)tos. Os terroristas pretendem politizar os profissionais do Turismo, pois assim será mais fácil destruir as atividades turísticas.
- Monte um “Comitê Turismo-Terrorismo”. Este Comitê deve não só integrar agentes de Polícia com sensibilidade para o Turismo, como também profissionais de Saúde, especialistas em Comunicação, representantes da Hotelaria e da Restauração, profissionais e especialistas em Transportes, assim como Líderes Políticos locais. É essencial que existe confiança entre os membros do Comitê. Quanto melhor conseguirem trabalhar em conjunto, mais fácil será responder, ou prevenir, uma crise.
- Crie vias novas para as pessoas proporcionarem palestrantes e informações, sem parecer estarem movidas pelo preconceito. Os últimos anos mostraram como os centros turísticos não só são culturalmente sensíveis como locais que aumentam uma tal sensibilidade. O Turismo é a antítese da xenofobia e as suas empresas procuram julgar cada pessoa pelo que é, individualmente, e não pela respectiva etnia, raça ou religião. Porém, este sentido de tolerância leva a que muitas pessoas evitem informar a Polícia quanto a ações duvidosas de alguém, temendo serem tidas por intolerantes os preconceituosas. Logo, as empresas turísticas devem explicar que é melhor ser cuidadoso em excesso do que sensível demais.
- Invistam na Polícia e em profissionais de Segurança Privada. Em demasiados locais, os agentes de Polícia trabalham demais, não têm uma formação suficiente e estão mal pagos. O conceito, do Séc. XIX, de acordo com o qual a Polícia precisa mais de músculo do que miolos, já não serve. Hoje precisamos de profissionais, altamente preparados e especializados. Demasiadas vezes uma promoção implica a mudança de funções e a conseqüente perda de formação e conhecimentos. As comunidades turísticas sem TOPP (Unidades de Polícia e Proteção Orientadas para o Turismo) colocam em risco a sua atividade. O mesmo vale para os profissionais de segurança.